11/ES Grupo Escoteiro do Mar Ilha de Vitória

Grupo Escoteiro do Mar Ilha de Vitória

Como entrei para o Escotismo?

Chefe Albert e um menido na falsa baiana

Na minha infância, participei de diversas peripécias, na faixa dos 8 a 13 anos. Nessa época eu estudava no Colégio Franco Brasileiro, no bairro de Laranjeiras e tinha como colegas de classe, Heitor Lyra (Patrulha Falcão) e Alfredo Ricardo Hid (Patrulha Lobo) ambos da Tropa 2 do 1º RJ Grupo Escoteiro João Ribeiro dos Santos. Eles me contavam sobre as atividades que desenvolviam e meu interesse foi crescendo

Um belo dia, Alfredo me convidou para uma atividade que sua patrulha iria fazer num fim de semana: subir e pernoitar na Pedra da Gávea. Aceitei sem nem mesmo saber se em casa iria obter a necessária permissão para isso. Mas em casa deu tudo certo e no dia (era uma sexta-feira à tardinha) partimos para a Pedra da Gávea. 

Eu, o Alfredo, o Jaime (monitor da patrulha Lobo), o Marcos e os outros três que participaram (mas não me recordo de seus nomes) morávamos no Flamengo ou em Laranjeiras, então partimos de ônibus para São Conrado e, lá chegando, toca a subir a Estrada das Canoas pelos primeiros dois ou três quilômetros até chegar no ponto onde começa a trilha que leva até o ponto chamado de Carrasqueira. Subida cansativa, mas sem problemas, chegamos na Carrasqueira, vencemos esse lance (hoje em vídeos do Youtube, esse pequeno trecho de pedra é tratado como perigoso e que precisa de guia para garantir a subida sem percalço, porém a cinquenta anos atrás um bando de garotos subia até de noitinha) e desviamos pela direita até a trilha que dá acesso ao topo da Pedra da Gávea.

Pedra da Gávea – Rio de Janeiro/RJ

Lá chegando, escolhemos uma clareira na mata existente, esticamos um cabo e nele fixamos plásticos grandes que levamos (quase que cortinas de chuveiro) improvisando uma barraca tipo canadense, comemos um lanche e ali dormimos. No dia seguinte, depois de um lanche, desmontamos o abrigo e fomos até a gruta do ouvido, depois fomos até o alto da chaminé Ely (onde se localizava a única fonte de água lá no topo da pedra) para encher os cantis. Aproveitamos que estávamos naquele ponto, descemos até a metade da chaminé e subimos numa fissura horizontal da rocha que proporciona um excepcional mirante, permitindo vislumbrar a Barra da Tijuca e Jacarepaguá. Retornamos ao topo da pedra e seguimos pela trilha, descendo a Carrasqueira, a trilha pela mata e chegamos a São Conrado onde pegamos o ônibus de volta ao Flamengo. Inesquecível a minha primeira vez na Pedra da Gávea e que se repetiria em várias outras subidas, nos anos que se seguiram.

Nota: Posteriormente, vim a saber que o Chefe da Tropa de Escoteiros havia proibido excursões de patrulha para a Pedra da Gávea, mas, nessa primeira subida, eu fui em absoluta boa fé.

Vista do bairro e praia de São Conrado com a montanha Pedra da Gávea no horizonte, no Rio de Janeiro, Brasil

Passado algum tempo, a mesma turma me convidou a participar de outra excursão que iriam fazer, desta feita à Pedra Bonita, também no Parque Nacional da Floresta da Tijuca. Aceitei na hora e fomos, só que desta vez o acesso era pelo Alto da Boa Vista, então tivemos de pegar um ônibus até a Usina e de lá, pegar outro ônibus até as proximidades da praça Afonso Viseu e de lá começar a descer a mesma Estrada das Canoas até o ponto em que inicia a trilha.

Nessa época, o local ainda não era um “point” de asa delta, então o acesso era por trilha no meio da mata. Mais ou menos na metade da trilha ficava a única fonte de água potável (no topo da Pedra Bonita não existiam nascentes) então era o momento de encher os cantis e mais umas duas ou três garrafas sobressalentes. Chegando ao topo, depois de perambular um pouco, toca fazer a montagem do abrigo para o pernoite e uma pequena fogueira para cozinhar uma refeição. Depois de jantar, um bocado de conversa fiada até o sono chegar. No dia seguinte lanchamos, perambulamos pelo topo da perda, apreciando a paisagem, desmontamos o abrigo, e retornamos, também via Alto da Boa Vista e Usina.

Finalmente Escoteiro!

Obtido o “nihil obstat” da família, combinei com meus colegas de classe como se daria o processo. Fui informado que primeiro deveria participar de uma reunião da Tropa de Escoteiros e que, em seguida, deveria haver uma conversa de meus pais com o Chefe do Grupo para esclarecimentos e detalhes da inscrição.

As reuniões da Tropa 2 ocorriam às quartas-feiras à noite, das 19:30 até as 21:30 horas (prática muito comum no Rio de Janeiro daquela época) e chegando lá no dia 4 de novembro de 1971 fui surpreendido por um ritual sobre o qual não havia sido avisado: tanto o Jaime (Monitor da Patrulha Lobo), quanto o Heitor (Monitor da Patrulha Falcão)

gritavam para mim “Escolhe a minha Patrulha” ou “Escolhe a Patrulha Falcão”, Escolhe a Patrulha Lobo”. Foi uma tremenda saia justa porque eu era amigo dos dois e quanto mais eu pensava mais eles gritavam. Acabei me decidindo pela Falcão, afinal eu já estudava com Heitor a vários anos, frequentávamos nossas casas tanto para estudar e fazer trabalhos quanto para nos divertir, mas foi bem difícil e depois me expliquei com o Jaime.

Ao final da reunião, me pediram que esperasse e me convocaram na Corte de Honra,

quando o Presidente me deu as boas-vindas à tropa e o Chefe da Tropa me passou as instruções para que no próximo Sábado as 15:00 horas eu comparecesse ao Grupo, acompanhado de meus pais, para uma conversa com o Chefe do Grupo, Luiz Paulo.

No sábado dia 6 de novembro de 1971 cheguei lá com minha mãe e estava iniciando uma reunião da Alcateia 3 de Lobinhos (O Chefe do Grupo, Luiz Paulo, acumulava a função de Akelá) e, assim que foi feito o hasteamento da bandeira e aplicado o primeiro jogo da reunião, o Chefe Luiz Paulo deixou seus Assistentes cuidando da reunião e aproximou-se para conversar com minha mãe, apresentando as explicações de praxe.

A partir daí comecei a participar das reuniões semanais e, durante o acampamento de encerramento do programa anual da tropa, ocorrido no Horto Florestal de Santa Cruz, RJ, entre os dias 11 e 13 de dezembro de 1971, mais precisamente no dia 13, fiz minha promessa escoteira.

Essa atividade marcou o início do período de recesso e somente em fevereiro de 1972 reiniciaram as reuniões de Seção.

Tropa Sênior

Como eu já era fisicamente desenvolvido e faria 15 anos em março de 1972, o Chefe da Tropa de Escoteiros me comunicou que eu iria passar para a Tropa Sênior, mesmo antes de meu aniversário.

Na Tropa Sênior fui incorporado à Patrulha Agulhas Negras cujo Monitor era Roberto Andrade (ou Roberto Mamute, pela sua compleição física), um bom amigo que veio a ser ceifado em 2021 pela SARS-COVID.

Agulhinha da gávea, Rio de Janeiro/RJ

Como eu tinha feito a promessa escoteira em dezembro de 1971, tive a necessidade de me aplicar para conquistar a 2ª Classe Escoteira, naquela época, o nível de progressão mínimo requerido para que pudesse receber a minha Investidura Sênior.

A primeira atividade externa de que participei como Sênior foi a escalada da Agulhinha da Gávea (montanha que fica justamente nas proximidades da Pedra da Gávea e da Pedra Bonita). Como a Patrulha Agulhas Negras tinha acabado de ser reaberta, a cordada foi composta pelo Guia de Escalada, por oito seniores e pelo Guia Assistente.

A próxima atividade externa realizada foi o acampamento de Grupo, realizado na Restinga de Marambaia, em área de treinamento do Exército Brasileiro. Como não podia deixar de ser, acampamento em área arenosa em restinga entre o mar e a lagoa (o que me desencantou quanto a acampar em praia – desde então, nunca mais considerei a hipótese). Dessa atividade restaram duas lembranças marcantes: 

A primeira, uma paródia composta pela Tropa Sênior para apresentar no fogo de conselho, baseada na canção Guajira, de Carlos Santana: “Vamos à restinga/ vamos acampar/Vamos à restinga/ vamos acampar/ A tropa sênior é fogo/ botamos prá quebrar …; a segunda, uma atividade não programada da qual só participou quem quis – uma pescaria noturna, usando rede de arrastão, dentro da restinga – saímos em uma Kombi de um militar do destacamento e passamos a rede de arrastão duas vezes: uma para a esquerda, recolhendo-a depois para a praia, e tendo que rapidamente retirar os siris que vieram, para que estes não comessem os camarões e os peixes. E mais uma para a direita, com a mesma dinâmica. Se não me engano, foram obtidos dois sacos de peixe, mais camarões de vários tamanhos, siris etc. Foi uma das poucas pescarias de que participei, durante toda a vida, em que, de fato, me diverti.

Depois desse acampamento ocorreu, em reunião de sede, a minha Investidura Sênior.

Outra escalada também ficou registrada em minha memória: o Pão de Açúcar pela rota do Costão.

Essa, na verdade é uma caminhada intensa, com alguns lances onde, por motivos de segurança, se faz necessário o uso de corda dinâmica pelos participantes. 

Pão de Açúcar, Rio de Janeiro/RJ

A rota se situa na face menos íngreme do Pão de Açúcar (a que fica voltada para a entrada da Baía de Guanabara). O bom dessa escalada é que, chegando lá em cima, você pode descer de bondinho, sem pagar!

Castelo do Açu, Petrópolis, RJ

Creio que a atividade externa seguinte que fiz como Sênior foi a Travessia Petrópolis – Teresópolis, em julho de 1972, na qual saímos na sexta-feira no início da noite da Rodoviária Novo Rio, fomos até Petrópolis e de lá embarcamos num ônibus urbano com destino a Itaipava.

De lá iniciamos uma caminhada até por volta das 23:30 horas até a Gruta Presidente, onde pernoitamos. No dia seguinte, após um lanche, partimos para o Castelo do Morro do Açú.

(alt. 2.200 m.), aonde chegamos por volta das 13:00 horas. À tardinha preparamos a única refeição quente dessa atividade – um espaguete ao alho e óleo, num fogareiro a álcool (por ser Parque Nacional era proibido acender fogueiras).

O curioso dessa atividade é que a dinâmica não foi por Patrulha, mas sim, por dupla (que deveria carregar a alimentação individual e da dupla (mantimentos, fogareiro, álcool, panela etc.). Pernoitamos e durante a noite enfrentamos um frio extremo! No dia seguinte pela manhã usamos o fogareiro para aquecer água e fazer um chocolate quente e, as mãos estavam tão dormentes que as colocávamos sobre o fogo e não sentíamos o calor. Demos sequência à jornada, descendo pela Pedra do Sino e depois de percorrer um total de uns 30 km, chegada na sede do PARNASO – Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Caminhamos um pouco mais até a rodoviária de Teresópolis, onde embarcamos em ônibus, de volta ao Rio de Janeiro.